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CVS - Corredores para a Vida Selvagem

CVS - Corredores para a Vida Selvagem: Modelação espacial da pressão humana e a sua utilidade para a conservação do Lobo Ibérico

Estado do projeto
Concluído
Financiamento
FCT (PTDC/AAC-AMB/111457/2009)
Prazo de execução
24 meses: Conclusão: setembro de 2014
Proponente
Direção-Geral do Território (DGT)
Participantes
  • Direção-Geral do Território (DGT) (Coordenação);
  • Centro de Biologia Ambiental (CBA - Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa)
  • Grupo Lobo (GL - Associação para a Conservação do Lobo e do seu Ecossistema)
Equipa
  • Ana Luisa Gomes (DGT - Investigadora Responsável)
  • Alexandra Fonseca (DGT - Investigadora)
  • Clara Bentes Grilo (CBA - Investigadora)
  • Francisco Fonseca (CBA - Investigador)
  • Gonçalo Costa (GL - Investigador)
  • Lara Nunes (DGT - Bolseira de Investigação)
  • Mariana Seara (CBA - Bolseira de Investigação)
  • Clara Espírito Santo (CBA - Bolseira de Investigação)
  • Barbara Marti Domken (CBA - Bolseira de Investigação)
Objetivo

Com este projeto de investigação pretendeu-se desenvolver uma metodologia, integrável em contexto de Ordenamento do Território, que contribua para quebrar o isolamento entre os habitats fragmentados, através da identificação de parcelas lineares, cujas características permitam a migração das espécies selvagens existentes.

Para tal, foi criado um sistema pericial multicritério para a modelação espacial das perturbações ambientais, reflexo da influência humana no território. Neste sistema, a modelação espacial da influência humana baseia-se em três grandes temas, considerados representativos das principais perturbações ambientais: presença humana, poluição do habitat e uso/ocupação do solo. Cada um destes temas é constituído por um conjunto de variáveis espaciais que pretendem representar os diversos impactes provenientes das atividades humanas, gerando um gradiente de perturbações ambientais, que constitui a base para a identificação de corredores preferenciais para o atravessamento das espécies entre as áreas protegidas.

O estudo da presença e dispersão do lobo ibérico, uma espécie silvestre sensível à pressão humana mas com grande capacidade de deslocação, surge como forma de testar esta nova estratégia de identificação de Corredores para a Vida Selvagem (CVS).

Em síntese, com este projeto pretendeu-se contribuir para aumentar a mobilidade das espécies selvagens entre as áreas protegidas em causa, favorecendo a persistência das espécies em perigo aí existentes, em especial do Lobo Ibérico, e simultaneamente, contribuir para aumentar a biodiversidade da região, dentro e fora das áreas protegidas.

Resultados alcançados

Os resultados são apresentados divididos pelas 6 tarefas do projeto CVS:

Tarefa 1 (DGT): Coordenação, Gestão e Disseminação do Projeto CVS

O principal objetivo da tarefa T1, da responsabilidade da DGT, foi o de assegurar uma correta coordenação e planeamento das várias tarefas do projeto de forma a garantir a execução dos trabalhos de acordo com o plano aprovado em sede de candidatura.

São ainda inseridas nesta tarefa as atividades relacionadas com a disseminação dos objetivos, métodos e resultados do projeto. Neste contexto, realizou-se, no último mês do projeto (setembro de 2014), um Workshop na FCUL, para apresentar e discutir os resultados do CVS. O Workshop CVS, contou com mais de 50 inscrições, envolveu a participação de 3 entidades convidadas, BioDiversity4All, Rewilding Europe e o ICNF (programa e apresentações disponíveis nesta página).

Tarefa 2 (DGT): Modelo conceptual para a identificação de corredores para a vida selvagem com base na modelação espacial das perturbações ambientais

A tarefa T2 centrou-se no desenvolvimento de uma metodologia para identificação de corredores para a vida selvagem tendo por base a modelação espacial das perturbações ambientais, como reflexo da influência humana no território. Utilizou-se a distribuição do lobo ibérico para avaliação da adequabilidade dos corredores de ligação propostos entre as áreas protegidas. O esquema metodológico inclui várias fases:

Tarefa 3 (CBA): Informação geográfica sobre o Lobo

Com esta tarefa, da responsabilidade do CBA, pretendeu-se obter informação geográfica atualizada sobre a distribuição do lobo ibérico, bem como obter dados sobre as atitudes públicas para com o lobo, com o propósito de validar a adequabilidade dos corredores propostos. Deste modo, foram desenvolvidas as seguintes subtarefas:

  1. Obtenção de um mapa com a distribuição potencial de ocorrência de lobo: desenvolveu-se um modelo ecológico de adequabilidade especifico para a espécie utilizando o método da Máxima Entropia (Maxent), tendo por base pontos de presença confirmada da espécie e um conjunto de variáveis geográficas consideradas importantes para a presença deste predador. O resultado obtido foi um mapa de adequabilidade com as seguintes classes: Ótima; Boa; Adequada e Não adequada. Uma área significativa com habitat favorável está fora da área de ocorrência de lobo o que sugere que outros fatores podem estar a influenciar a distribuição de lobo e dificultar a sua recuperação, como sejam, as atitudes humanas para com os lobos e a ausência de presas selvagens;
  2. Recolha de informação para a validação, no terreno, da presença de lobo dentro de alguns corredores de vida selvagem elaborados na Tarefa 6: realizaram-se 246 percursos de amostragem (correspondendo a mais de 750km de caminhos prospetados), foram recolhidos e enviados para análises genéticas 43 dejetos potencialmente pertencentes a lobo, foram obtidos registos fotográficos de lobo em 3 eventos independentes e realizadas 5 estações de escuta (ver Relatorio_Lobo_CVS2014.pdf);
  3. Estudo das atitudes públicas dentro dos corredores de vida selvagem (CVS), de modo a evidenciar potenciais zonas de conflito em zonas de bom habitat para a espécie. O questionário consistiu sobretudo em perguntas fechadas e foi anónimo e confidencial, com questões que se destinam a conhecer cada um dos quatro componentes que definem a Atitude - afetivo, cognitivo, intenção comportamental, comportamento. Foram realizados 273 inquéritos, 170 correspondendo ao público-geral, 74 a criadores de gado e 29 caçadores. Para a análise dos dados foram calculados diversos Índices de Atitude face ao lobo, tendo os resultados permitido concluir que existe uma diferença de opinião entre o público-geral e os outros grupos-alvo, com os criadores de gado a serem os mais negativos em relação à presença do lobo (ver Relatorio_AtitudesPublicasLobo.pdf).

O projeto recorreu aos dados de distribuição do lobo ibérico, tanto em termos de distribuição potencial, identificando as áreas dos corredores com habitats adequados e com habitats a evitar, como usando a informação sobre a monitorização do lobo ibérico, identificando nos corredores propostos a localização de alcateias, de locais de nidificação ou confirmando a ausência de lobos. Um outro aspeto a aprofundar prende-se com a utilização da informação obtida no estudo das atitudes públicas face ao lobo nas áreas dos CVS. Esta informação representa uma fonte de dados de grande relevância, a explorar não só na redefinição do traçado dos CVS como para aprofundar o conhecimento sobre esta espécie e suas ameaças em Portugal.

Tarefa 4 (DGT): Construção da Base de Informação Geográfica

Recolha e tratamento de dados para o desenvolvimento e organização da base de dados de informação geográfica (IG) do projeto CVS. Inclui a recolha e tratamento para a nomenclatura CVS de toda a (IG). Com toda a informação de base para a modelação espacial da influência humana e os mapas temáticos produzidos no âmbito do projeto, que abrange todo o território do Continente, em formato matricial com uma resolução de 100mX100m, o que corresponde a uma célula de um hectare.

IG de entrada no modelo (nomenclatura CVS)

  • Carta de Ocupação do Solo: nomenclatura CVS (fonte: COS 2007-DGT);
  • Rede viária e ferroviária: nomenclatura CVS (fonte: 1/500000-DGT);
  • Distribuição das indústrias: nomenclatura CVS (fonte: PCIP 2012-APA);
  • Densidade populacional por secção: nomenclatura CVS (fonte: Censos 2011-INE);
  • Limites das áreas protegidas (fonte: 2013-ICNF).

IG produzida no projeto CVS

  • Impacto da presença humana (Tarefa 5);
  • Impacto da poluição sonora (Tarefa 5);
  • Impacto da poluição química (Tarefa 5);
  • Impacto do tipo de uso/ocupação do solo (Tarefa 5);
  • Gradiente de perturbações ambientais (Tarefa 5);
  • Corredores entre áreas protegidas (Tarefa 6);
  • Habitat potencial do Lobo Ibérico (Tarefa 3);
  • Distribuição do Lobo Ibérico (Tarefa 3).

Tarefa 5 (DGT): Desenvolvimento do sistema pericial para a modelação espacial das perturbações ambientais

Esta tarefa, da responsabilidade da DGT, corresponde ao desenvolvimento do sistema pericial para a obtenção do gradiente das perturbações ambientais. O desenvolvimento deste sistema pericial incluiu:

  • Definição de um conjunto de questões no sentido de os peritos avaliarem as perturbações para as espécies selvagens, representadas pelas variáveis geográficas do modelo;
  • Desenvolvimento de um questionário CVS na Internet, com o software GoogleForms, que permite maior facilidade de acesso pelos peritos, possibilita a sua utilização em simultâneo e faz a gestão automática das respostas numa única folha de cálculo;
  • Seleção de um conjunto de peritos com conhecimento e experiência nos temas da vida selvagem terrestre, conservação da natureza, ambiente, avaliação de impactes ambientais e ordenamento do território;
  • Análise estatística das respostas obtidas pelo sistema pericial.

Os inquiridos responderam às diversas questões do formulário CVS no sentido de avaliarem a perturbação para as espécies selvagens numa escala de 1 a 10, de acordo com um grupo biológico específico. Foram obtidas 51 respostas.

Com base nos valores de intensidade e de amplitude das ameaças, obtidos através das respostas dos peritos ao inquérito, aplicaram-se os processos de análise espacial para a modelação espacial das perturbações ambientais, recorrendo a processos de análise de vizinhança, reclassificação e álgebra de mapas gerando um mapa que pretende representar a pressão humana direta ou indireta sobre as espécies selvagens.

Embora o gradiente obtido com a representação espacial da avaliação pericial das perturbações ambientais dependa da informação de base e da subjetividade inerente ao próprio sistema pericial, considera-se representativo do conjunto de opiniões de 51 especialistas em diferentes áreas associadas ao tema em estudo. O gradiente de perturbações ambientais serviu de base para a identificação dos corredores de menor perturbação entre áreas importantes para a conservação, validados com o lobo ibérico, uma espécie sensível à perturbação antropogénica.

Tarefa 6: Geração de propostas de corredores de ligação entre as áreas protegidas

Na tarefa 6, da responsabilidade da DGT, foram identificados corredores de menor perturbação antropogénica para a movimentação das espécies selvagens entre as áreas protegidas, com base no gradiente das perturbações ambientais derivadas da presença e atividades humanas obtido na tarefa 5. A identificação de corredores para a vida selvagem (CVS) foi realizada recorrendo ao software Corridor Design que opera sobre o ArcGIS e que se baseia na função espacial least-cost-path sobre superfícies de custo, que neste caso, foi calculada sobre o inverso do gradiente das perturbações ambientais, obtido na Tarefa 5.

Para avaliar a adequabilidade dos corredores propostos (CVS) e consequentemente do gradiente de perturbação que lhes serve de base recorreu-se à distribuição do lobo ibérico, informação produzida na tarefa 3. Verificou-se que dentro dos corredores CVS o habitat não adequado para o lobo ibérico corresponde apenas a cerca de 20% da área total, sendo dos restantes 80%; 43% zonas frequentadas pelo lobo e 37% áreas utilizadas para reprodução. Valores muito superiores aos obtidos para o resto do Continente.

Cruzando a informação geográfica proveniente do gradiente das perturbações ambientais com a informação do modelo de distribuição do lobo, verifica-se que os locais mais adequados para o lobo, locais de reprodução, coincidem com as áreas de menor perturbação. O mesmo se regista para a situação inversa, em que as áreas mais perturbadas são geralmente classificadas como "Não adequadas" para o lobo.

Consideram-se que este estudo, deve ser aprofundado a uma escala mais local, particularmente em relação à existência de algumas áreas mais perturbadas dentro dos corredores que poderão dificultar a movimentação/progressão no interior das faixas propostas de ligação entre as áreas protegidas. Considera-se também importante aplicar a metodologia às restantes áreas protegidas do Continente e alargar o estudo às áreas transfronteiriças espanholas, não considerando a fronteira com Espanha como uma limitação ao cálculo do gradiente. Para além deste aspeto, a validação da adequabilidade dos CVS propostos poderá ser reforçada recorrendo a informação de outras espécies, aspeto essencial para a validação dos futuros corredores fora da zona de distribuição do lobo ibérico.

Publicações

Publicações, relatórios e apresentações

  • Clara Espírito Santo (2014). Atitudes Publicas para com o Lobo. Relatório final. Coordenação do Prof. Dr. Francisco Petrucci-Fonseca. Projeto PTDC/AAC-AMB/111457/2009 - Corredores para a vida selvagem: modelação espacial da pressão humana e a sua utilidade para a conservação do lobo ibérico (Relatório: Relatorio_AtitudesPublicasLobo.pdf).
  • Barbara Marti Domken (2014). Recolha de informação sobre a distribuição do lobo ibérico em 3 corredores de vida selvagem. Relatório final. Coordenação do Prof. Dr. Francisco Petrucci-Fonseca. Projeto PTDC/AAC-AMB/111457/2009 - Corredores para a vida selvagem: modelação espacial da pressão humana e a sua utilidade para a conservação do lobo ibérico (Relatório: Relatorio_Lobo_CVS2014.pdf).
  • Nunes, L.; Gomes, A.L.; Fonseca, A. (2014). Uncertainty analysis in the modeling of wildlife corridors. IALE-Europe Thematic Workshop 2014, Instituto Superior Técnico, 4-5 julho, Lisboa. (Resumo) (Poster)
  • Gomes, A.L.; Nunes, L.; Fonseca, A. (2014). Corredores para a Vida Selvagem (CVS). EUE 2014, 21-22 maio, Culturgest, Lisboa. (Poster)
  • Gomes, A.L.; Nunes, L.; Fonseca, A. (2014). A modelação geográfica das pertubações ambientais como instrumento de apoio à decisão na área do planeamento da conservação. Atas da Conferência Nacional de Geodecisão 2014, ISBN: 978-989-20-4966-3, Editor: Instituto Politécnico de Setúbal, 15-16 maio, Barreiro. (Artigo)
  • Mariana Seara - (2013). "Predicting occurrence of Iberian wolf: the role of sample size and spatial scale". Tese inserida no Mestrado em Sistemas de Informação Geográfica, Tecnologias e Aplicações, Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. (Tese de mestrado)
  • Gomes, A.L.; Nunes, L.; Fonseca, A. (2013). Corredores de ligação entre áreas protegidas com base na modelação espacial das perturbações ambientais. Atas do IX Congresso da Geografia Portuguesa, Universidade de Évora, 28-30 novembro, Évora. (Artigo)
  • Petrucci-Fonseca, F.; Costa, G.; Seara, M.; Grilo, C. (2013). Factors affecting wolf presence in the Iberian Peninsula. International Wolf Symposium, 10-13 october, Duluth, Minnesota, USA. (Resumo)
  • Nunes, L.; Gomes, A.L.; Fonseca, A. (2013). Wildlife Corridors based on the spatial modeling of the human pressure: a Portuguese case study. WILD10, Symposium on Science and Stewardship to Protect and Sustain Wilderness Values, 4-10 october, 2013 - Salamanca, Spain. (Artigo)
  • Petrucci-Fonseca, F.; Costa, G.; Seara, M.; Grilo, C. (2013). Anticipating future human-wolf conflicts: predicting wolf expansion areas in Portugal. Slowolf - Wolf Conservation in Humana Dominated Landscapes, 25-27 september, Postojni, Eslovénia. (Resumo)
  • Gomes, A.L.; Nunes, L.; Fonseca, A. (2013). Sistema pericial para a modelação espacial das perturbações ambientais resultantes de atividades humanas. Atas da II Conferência de PRU, VIII ENPLAN e XVIII Workshop APDR: EUROPA 2020: "retórica, discursos, política e prática", Universidade de Aveiro, 5-6 julho, Aveiro. (Artigo)
  • Seara, M.; Costa, G.; Roque, S.; Maior, H.; Álvares, F.; Fonseca, F.; Grilo, C. (2012). Predicting occurrence of Iberian wolf: the role of sample size and spatial scale. Atas do III Congresso Ibérico do Lobo, Faculdade de Veterinária da Universidade de Santiago de Compostela, 23-25 novembro, Lugo, Espanha. (Resumo) e (Apresentação)
  • Nunes, L.; Gomes, A.L.; Fonseca, A. (2012). Evolução da população residente em áreas protegidas portuguesas. Atas das 5ª Jornadas de Software Aberto para Sistemas de Informação Geográfica -  SASIG5, Universidade do Algarve, 15-17 novembro, Faro. (Artigo
  • Gomes, A.L. (2011). Wildlife Corridors: Connecting Protected Areas fórum biodiversidade: Green Infrastructures for Biodiversity. GREENFEST, Centro de Congressos do Estoril, 28-30 setembro, Estoril. (Resumo) e (Apresentação)
  • Gomes, A.L.; Petrucci-Fonseca, F.; Costa, G.; Fonseca, A. (2011). Corredores para a Vida Selvagem com Base na Modelação Espacial das Perturbações Ambientais e a Sua Utilidade para a Conservação do Lobo Ibérico: Processos Metodológicos. Atas do 17º Congresso da APDR: 5º Congresso de Gestão e Conservação da Natureza, Congresso Internacional da APDR/AECR, 29 junho a 2 julho, Bragança (Artigo)

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