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Filipe de Sousa Folque

Fotografia de Filipe de Sousa Folque
1864-1874
Direcção-Geral dos Trabalhos Geodésicos, Topográficos, Hidrográficos e Geológicos do Reino
1868-1869
Depósito Geral de Guerra
1864-1868
Instituto Geográfico / Direcção-Geral dos Trabalhos Geográficos, Estatísticos e de Pesos e Medidas
1857-1864
Direcção-Geral dos Trabalhos Geodésicos, Corográficos, Hidrográficos e Geológicos do Reino
1856-1857
Direcção-Geral dos Trabalhos Geodésicos, Corográficos e Hidrográficos do Reino
1852-1856
Comissão dos Trabalhos Geodésicos, Topográficos e Cadastrais do Reino
1848-1852
Comissão Geodésica e Topográfica do Reino

A carta Geral do Reino

Em 1790, com a lei da reforma das comarcas foram lançados os fundamentos de uma visão de reforma do território, numa relação estreita com o sistema judiciário. A execução desta reforma deparou-se com uma enorme falta de conhecimentos técnicos e científicos de informação geográfica nacional. Pela inexistência de uma Carta Geral do Reino, credível e rigorosa, que identificasse inequivocamente o território nacional, os juízes viam-se impossibilitados de avaliar e julgar os diferentes casos apresentados, por limitados conhecimentos técnicos e científicos, quer das entidades oficiais, quer do conhecimento da população geral. Sob uma forte influência das novas teorias científicas europeias, cria-se a ideia generalizada da necessidade de construir um Estado mais central e mais moderno. A soberania ganha uma nova dimensão, especificamente territorial, tornando-se indispensável para tal, conhecer, representar e medir o território. A reformas que se produzem com o aparecimento da geodesia e cartografia, vêm nesse sentido cumprir o objetivo de redefinir os limites territoriais, demarcar as divisões judiciais, levantar as questões relativas ao ordenamento do território e fomentar as comunicações, sobretudo entre o litoral e o interior do país.

Daqui nasce a necessidade da elaboração da Carta Geral do Reino, muito embora os recursos humanos e financeiros fossem escassos. Em 1788, sob a iniciativa do Ministro dos Negócios Estrangeiros e da Guerra, D. Luís de Sousa Coutinho, o levantamento da triangulação geodésica do reino, é entregue a Francisco António de Ciera, coadjuvado por Carlos Frederico de Caula e Pedro de Sousa Folque. A utilidade desta rede seria para apoiar o levantamento, sistemático e a uma escala grande, da Carta Geral do Reino.

As origens

Filipe de Sousa Folque (1800-1874), era filho do Tenente General Pedro Folque e de Maria Micaela de Souza Folque. Pedro Folque, nascido em 4 de abril de 1744, faleceu em abril de 1848, ativo ao serviço e montando ainda a cavalo. Oriundo de famílias nobres espanholas e natural da Catalunha, com o nome de família Folc ou Folch de Cardona, que provavelmente, por corruptela, se transformou em “Folque”. Com a idade de 11 anos, Pedro Folque vem para Portugal, a casa do Duque de Cadaval, o qual se encarregou diretamente da sua formação e educação. Foi assim que frequentou, como aluno, o Colégio dos Nobres de Lisboa.

Envereda pela carreira militar e inscreve-se em 1780 no curso de Matemática da Academia Real da Marinha. Aluno brilhante, frequentou os 2 primeiros anos do curso tendo ficado habilitado para o serviço da marinha. Em 1790, por Ordem Real, foi encarregue, da elaboração da Carta Geográfica do Reino. Em 1791, é nomeado ajudante de Infantaria com exercício de Engenheiro. Em 1795, como 1º Tenente do Real Corpo de Engenheiros, completa o curso Militar da Real Academia de Fortificação. Em 1800, aquando do nascimento de seu filho Filipe Folque, é nomeado Tenente-Coronel do Real Corpo de Engenheiros para servir na Capitana da Bahia. Em 1824 é nomeado Brigadeiro Graduado, do Real Corpo de Engenheiros. É ainda, por ordem do Rei, que lhe são entregues, para construção, no Arsenal Real do Exército, vários telégrafos que seriam distribuídos posteriormente por todo o território, constituindo uma importante e indispensável rede de comunicações nacional. Em 1836 é nomeado Marechal de Campo graduado, por Decreto de 25 de setembro.

De salientar que, na sua carreira técnica e científica, em 1838, por ordem da Rainha, Pedro Folque fica encarregado da Triangulação Geral do Reino, informação geodésica que constitui a base de suporte de toda a cartografia nacional. Estes trabalhos de observação astronómica e geodésica, foram retomados após as primeiras operações levadas a cabo pelo ilustre matemático e cartógrafo, Francisco António de Ciera, entre 1788 e 1803.

Descarregue aqui os volumes de 1 a 4 dos Diários, em formato PDF.

Filipe Folque

Filipe de Souza Folque, homem de visão científica e técnica apurada, vem de uma família letrada e culta, onde os conhecimentos eram sobejamente abundantes, pela formação militar e académica de seu pai, Pedro Folque. Foi neste ambiente familiar de comunhão com a cultura técnica e científica, bem como, de uma vida de carreira militar, que Filipe Folque cresceu, se desenvolveu e se formou. Naturalmente desperto para a ciência e para as tecnologias, crescendo num meio social favorável ao desenvolvimento dos seus conhecimentos, aproveitou as oportunidades que a vida lhe foi proporcionando, sempre com muito empenho, sacrifício e dedicação.

Assim foi, que a 4 de janeiro de 1820 assentou praça na Armada, como voluntário, sendo promovido a segundo tenente, em maio desse ano. Em 1826, doutorou-se na Universidade de Coimbra em Matemática, tendo sido nesse mesmo ano nomeado ajudante do Diretor de Obras do Mondego e em fevereiro de 1827 foi nomeado ajudante do Observatório Astronómico da Universidade de Coimbra. Transita para o Exército em 1833 como Tenente onde viria a alcançar, em 1872, o posto de General de Divisão do curso de Engenharia. Em 1836 e, apesar de estar no Exército, regressa à Marinha para lecionar e ocupar o lugar de lente da Academia de Marinha, onde cria o curso de Engenheiro Hidrógrafo. Este curso foi de especial relevância na Academia Portuguesa, pelos nomes ilustres que dali surgiram: António Baldaque da Silva, Hermenegildo Capelo, Roberto Ivens e Gago Coutinho, entre outros. Filipe Folque que tinha sido admitido em 1836 como docente da Academia Real da Marinha, passou em 1840 para a Escola Politécnica, como lente de Astronomia e Geodesia.

Juntamente com seu pai, Pedro Folque, em 1843 recebe a incumbência de realizar a Carta Corográfica do Reino, à escala 1/100 000. Entre 1844 e 1874, foi Diretor Geral da Comissão dos Trabalhos Geodésicos e Cartográficos do Reino, onde em 1851 cria o departamento hidrográfico, departamento esse que perduraria até 1890, aquando da sua transferência para o então formado Instituto Hidrográfico.

Os Diários

Em 1854 e 1855, como mestre de matemática dos infantes D. Pedro e D. Luís, filhos da Rainha D. Amélia II, efetua uma viagem de estudo à Europa, na qual elabora 5 Diários com os registos de todos os importantes factos que presenciou, quer ao nível dos costumes, quer ao nível científico e técnico. Estes contactos com as novidades da realidade técnica e científica do que de melhor se estudava e produzia em termos cartográficos na europa, permitiu a Filipe Folque desenvolver, enquanto Diretor Geral dos Trabalhos Geodésicos e Cartográficos do Reino, áreas novas, adquirir novos equipamentos e instrumentos geodésicos e de metrologia, cartografia e fotografia. Criou também departamentos tão importantes como a Seção Fotográfica e o Departamento de Hidrografia. A secção fotográfica (anos 70 do Séc. XIX) que veio revolucionar os processos de reprodução cartográfica, possibilitou a introdução de um método de impressão por fotografia do desenho de uma carta sobre pedras litográficas, técnica denominada fotolitografia.

Filipe Folque publicou vários Relatórios da atividade anual da Direção Geral dos Trabalhos Geodésicos, Topográficos, Hidrográficos e Geológicos do Reino, entre 1868 a 1874, bem como Instruções para cálculos diversos, Instruções para os Trabalhos Hidrográficos e outros temas que podem ser consultados, aqui, no Museu Virtual, na Coleção de Livros de Filipe Folque. Publicou vários artigos, colaborando na Revista Universal Lisbonense, entre 1841-1859 e na Revista do Observatório Real de Lisboa, em 1842.

Filipe Folque faleceu em 1874, em Lisboa, na Lapa.

Doação dos 5 Diários da Viagem à Europa, de Filipe Folque

Luís Filipe Mendia de Castro, sucessor e herdeiro legítimo do General Filipe de Sousa Folque, propõe, em Novembro de 2013, à Direção Geral do Território (DGT) a doação dos 5 Diários de uma viagem à Europa, efetuada por aquele ilustre dirigente.

A Direção Geral do Território, organismo da Administração Central do Estado, é a entidade predecessora da então Direção Geral dos Trabalhos Geodésicos, Topográficos, Hidrográficos e Geológicos do Reino, instituição que, naquela época, se encontrava sob a direção do General Filipe Folque.

A vida e obra do General, figura incontornável da história da DGT conduziu à atribuição da categoria de Patrono desta instituição, pelo notável e brilhante desempenho nos trabalhos desenvolvidos do século XIX, no domínio da Astronomia, Geodesia e Cartografia, os quais, ainda hoje, servem de base a todos os subsequentes trabalhos nesta área do conhecimento. Homem notável impulsionou de forma decisiva a cartografia portuguesa do séc. XIX e cuja vida e obra do general, conduziu à atribuição da categoria de Patrono desta Instituição.

Os referidos Diários que agora se disponibilizam, foram escritos pelo General, enquanto Mestre de Matemática dos príncipes D. Pedro e D. Luís, filhos da Rainha D. Amélia II, durante a viagem de estudo que efetuou à Europa, realizada entre 1854 e 1855. A escrita foi efetuada através de um lápis de ponta metálica, sobre as folhas em papel, dos Diários. Dado que não existe tinta aplicada na caneta, a escrita encontra-se muito sumida e ténue, o que, nalgumas páginas, poderá dificultar a sua leitura e interpretação.

Estes cadernos constituem portanto, um documento ímpar e valioso para o estudo da vida e obra do General Filipe Folque, enquanto impulsionador e dinamizador da história da Geodesia e Cartografia Portuguesa e da história de Portugal.

Descarregue aqui os volumes de 1 a 4 dos Diários, em formato PDF.

Pode consultar a bibliografia deixada por Filipe Folque no nosso museu virtual

General de Divisão, nascido em Portalegre, a 28 de novembro de 1800. Filho do General Pedro Folque, em 1817 assentou praça voluntariamente na Armada como Aspirante de Piloto, sendo mais tarde sido promovido a Oficial. Ingressou na Universidade de Coimbra onde, em 1826, se doutorou em Matemática. Foi nomeado Diretor das Obras do Rio Mondego e, em 1827, Ajudante do Observatório da Universidade de Coimbra. Em 1833, o Doutor Filipe Folque, 2.º Tenente da Armada Real da Marinha, Opositor na Faculdade de Matemática na Universidade de Coimbra, foi transferido para o Exército, sendo promovido a 1.º Tenente adido ao Real Corpo de Engenheiros, onde fez toda a sua carreira militar.

Ainda decorria a Guerra Civil entre Liberais e Absolutistas, quando em 1833, começou a trabalhar com o seu pai, Pedro Folque que dirigia superiormente a Comissão para os Trabalhos de Triangulação Geral e Levantamento da Carta Corográfica do Reino (Ministério da Guerra). Em 1849, após a morte de seu pai, foi encarregado de dar continuidade aos trabalhos, e em 1852, em pleno período da Regeneração, com a criação do novo Ministério das Obras Públicas, Comércio e Indústria, passa a chefiar a Comissão Geodésica e Topográfica do Reino. Mais tarde, esta grande estrutura administrativa e científica cresce, denominando-se Direcção-Geral. As suas competências e designações foram-se alterando ao longo dos anos e, no final da sua vida Filipe Folque era Diretor-Geral dos Trabalhos Geodésicos, Topográficos, Hidrográficos e Geológicos do Reino.

Além de grande impulsionador da Cartografia em Portugal, colocando-a ao nível do que de melhor se fazia na Europa (como foi pública e internacionalmente reconhecido por sucessivos prémios), foi responsável pela adoção dos novos métodos de reprodução e divulgação da mesma, quer seja com a contratação do Mestre polaco Jan Lewicki para introdução da Litografia na Cartografia portuguesa; quer, já na década de 70, na criação dentro da estrutura orgânica da Direcção-Geral, da nova Secção Fotográfica (chefiada pelo Lente de Química José Júlio Rodrigues, e que atuava no edifício da Real Academia das Ciências de Lisboa), que se impõe como primeiro organismo oficial de fotografia em Portugal. Apadrinhou, ainda, o desenvolvimento dos estudos geológicos (Presidente da Comissão Diretora dos Trabalhos Geológicos do Reino) e hidrográficos, tendo sido o responsável pela criação da classe de Oficiais Engenheiros Hidrográficos, na Marinha.

Em termos de grandes marcos da cartografia nacional, é responsável pelo levantamento da Carta Geral do Reino ou Carta Corográfica de Portugal na escala 1: 100.000 (não obstante não ter tido tempo para assistir à sua conclusão, com a publicação das últimas folhas); pela Carta Topográfica da Cidade de Lisboa, na escala 1: 1.000, em 65 folhas manuscritas e coloridas, que permitiram a elaboração da excelente Carta de Lisboa, litografada, na escala 1: 5.000; do Plano Hidrográfico da barra do Porto de Lisboa, na escala 1: 10.000, entre muitos outros trabalhos.

Com a criação da Escola Politécnica de Lisboa foi nomeado Lente de Astronomia. Foi mestre de Matemática dos filhos da Rainha D. Maria II e acompanhou estes, D. Pedro V e seu irmão Luiz, Duque do Porto (mais tarde Rei D. Luiz I) nas duas viagens que estes efetuaram à Europa em 1854 e 1855, já com a patente de Brigadeiro.

Social e politicamente muito ativo, foi Deputado da Nação pelo ciclo de Portalegre, sua terra natal, e pelo ciclo de Lisboa, colaborou ativamente com Almeida Garrett na fundação do Conservatório Nacional, chegando a ser Diretor da Secção de Música.

Ainda em 1834, foi feito Sócio efetivo da Academia Real das Ciências de Lisboa, de que veio a ser Diretor de classe, em 1850. Lente jubilado da Escola Politécnica de Lisboa e da Escola do Exército, e devido aos seus grandes conhecimentos musicais (exímio flautista), colaborou ativamente com Almeida Garrett na fundação do Conservatório Nacional, chegando a ser Diretor da Secção de Música. Foi ainda colaborador assíduo da altamente prestigiada Revista Militar e escreveu várias obras científicas, que serviram de base a muitos estudiosos da matéria: Memórias sobre os trabalhos geodésicos executados em Portugal; Continuação das Memórias sobre os trabalhos geodésicos em Portugal; Dicionário do Serviço dos trabalhos geodésicos e topográficos do Reino; Instruções pelas quais se devem regular os Diretores e Oficiais encarregados dos trabalhos geodésicos e topográficos, seguidas da descrição e retificação do Teodolito; Trabalhos geodésicos do Reino; Tábua para determinar a influência do erro dos ângulos sobre o cálculo dos lados do triângulo; Tábuas para o cálculo trigonométrico das cotas de nível; Tábuas para o cálculo de redução do centro; Tábuas para o cálculo das distâncias à meridiana; Coleção de notícias para a História e Geografia das Nações Ultramarinas e muitas outras obras...

Recebeu a mercê régia de ser nomeado Fidalgo da Casa Real e Par do Reino. Foi agraciado com a Ordem Militar de Santiago da Espada, grau de Grã-Cruz; e com o grau de Comendador das seguintes Ordens: Real Ordem de S. Bento de Aviz, Ordem de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa, Ordem de Leopoldo (da Bélgica), Ordem da Coroa de Carvalho e Ordem do Leão (ambas dos Países-Baixos), Legião de Honra (de França) e da Ordem de S. Jorge (do Reino das Duas Sicílias).

A DGT

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